Filosofia do Kung Fu – Conheça os princípios filosóficos do método do Kung Fu

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Há uma filosofia própria do Kung Fu, que não é só uma arte marcial, mas é também um estilo de vida. Os exercícios físicos, golpes e técnicas podem ser usados tanto para derrotar o adversário quanto para desenvolver o caráter.

Entenda no nosso texto o que está por trás dos movimentos e se aprofunde nas filosofias que fundamentam seu método de ensino!

Como o Kung Fu é ensinado

As artes marciais chinesas sempre foram treinadas pensando no desenvolvimento de certas habilidades e virtudes. Na antiguidade, esse ensino estava atrelado à educação de todos os jovens. Principalmente daqueles que lutavam pela sua sobrevivência nos campos. Aprender a caçar para conseguir alimento era uma necessidade de todas as famílias.

Assim, esse conhecimento era passado dos pais para os filhos. Cada geração foi melhorando as técnicas antigas e incorporando novas ao seu repertório. Esse processo de desenvolvimento se intensificou quando os primeiros exércitos foram formados.

Uma nova didática

Da necessidade de treinar várias pessoas para o combate em pouco tempo surgiram métodos de treino. Os generais absorveram os saberes que as várias gerações de camponeses criaram e os colocaram em prática nos campos de batalha, que ficavam cada vez mais perigosos. A tecnologia não deixava de evoluir e com isso novos materiais para as armas e proteções deixavam os soldados cada vez mais equipados.

Na medida em que a arte da guerra ia evoluindo, os treinamentos também foram se modificando. Estratégias de ensino foram desenvolvidas para acelerar o aprendizado dos jovens e prevenir que lesões acontecessem durante os treinos.

Havia também a necessidade de desenvolver bravura, fidelidade e força de vontade . Isso era imprescindível para superar os desafios da vida nos campos agrários e de batalha. Daí surge a filosofia do Kung Fu, que é tanto uma ética de virtudes quanto uma crença na capacidade de autodeterminação física e mental.

O método do Kung Fu

A partir de diversas experiências de vários mestres e generais uma didática geral foi desenvolvida. Ela consiste em desenvolver o corpo e a mente por meio de ritos sociais e exercícios físicos.

Ao utilizar princípios éticos para definir a conduta dos praticantes e se aproveitando dos benefícios que as atividades físicas proporcionam, os mestres de Kung Fu formularam uma rotina de exercícios e conteúdos organizados de acordo com o nível de complexidade.

Para aprender da melhor maneira possível o ideal seria:

  • Isolar movimentos chave que seriam uteis em uma luta (ou em qualquer tipo de tarefa);
  • Criar uma sequência básica para fortalecer o corpo e desenvolver coordenação motora;
  • Repetir os movimentos para melhorar sua execução;
  • Testar suas habilidades contra outros adversários.

Seguindo esse roteiro qualquer habilidade poderia ser desenvolvida aos poucos e de maneira eficaz, reduzindo o tempo de assimilação dos aprendizes. Com o tempo esse modelo evoluiu até chegar ao formato que conhecemos no séc. XXI:

  • Ginástica e alongamentos;
  • Básicos;
  • Formas ou Taolus (sequencias de técnicas);
  • Aplicações (uma maneira simples de entender a função de uma técnica);
  • Luta combinada (onde se treina com riscos reduzidos);
  • Combate direto.

Nas aulas de Kung Fu vamos encontrar variações desse modelo, já que cada professor terá uma formação em um ou mais estilos distintos. Além disso, cada academia pode focar mais em uma determinada parte desse esquema.

Algumas escolas podem ignorar as formas e treinar os básicos e as lutas, enquanto outras se concentram nos taolus e técnicas com armas. Isso é verificável ao ver como cada escola organiza seu currículo, podendo se usar faixas ou não.

Filosofia ou arte marcial? A filosofia do Kung Fu

Ao mesmo tempo em que temos a evolução dos exércitos e técnicas militares encontramos o crescimento de um movimento cultural. Na era das primeiras dinastias chinesas há o surgimento de filósofos e correntes de pensamentos que foram tão influentes na sociedade que as artes marciais não poderiam deixar de ser afetadas.

Confúcio e Chuang-tse, por exemplo, são pensadores que se questionaram sobre como ser uma pessoa melhor e mais feliz. Como as artes marciais se preocupam também com a criação de caráter (as tropas precisam ser corajosas, por exemplo) esses autores se tornaram referência também nesse meio.

Assim encontramos uma gama de conceitos e ideias que fundamentam os métodos e as práticas (tanto técnicas quanto éticas) das artes marciais. Temos assim uma filosofia do Kung Fu.

Confucionismo

Confúcio teria nascido em Lu, uma província no centro-oeste da China, no ano de 551 a.C. Ele é um dos pensadores mais importantes na história chinesa e é até hoje uma referência para educar a sociedade. Sua filosofia se baseia em uma aposta no potencial humano. Para ele, a educação é a chave para tornar a sociedade mais justa e a vida mais ordenada.

Assim, por meio da crença de que é possível aprender e se melhorar, podemos nos tornar junzi, ou seja, pessoas elevadas. Um junzi teria condições de agir pelo bem da humanidade como um todo. Esse apreço pelo bem comum é conceituado com ren, o senso de humano.

Contudo, para se tornar alguém elevado seria preciso ter incorporado o Li, que é o espírito ritual. Seguir os ritos é tanto ser diligente com o cuidado de si quanto com os outros.

Sabendo a hora certa de agir e como se comportar diante de autoridades, o junzi evita diversos conflitos sem precisar lutar. E tendo o cuidado de si e o automelhoramento como prioridade, a pessoa elevada desenvolve habilidades, entre elas as marciais, que lhe possibilitam defender a justiça se necessário.

Taoismo

O taoismo é uma filosofia cuja origem é incerta. Há dois autores principais: Chuang-tse e Lao-tse. Alguns historiadores colocam Lao-tse, e seu livro Tao Te Ching, como o fundador dessa corrente filosófica. Outros, ao analisar o Zhuangzi, acreditam que ele foi o primeiro pensador, pois os temas que o texto aborda são próximos às discussões da época de Confúcio e Mêncio.

Independente de quem criou o taoismo, sua influência na cultura chinesa é inegável. Nessa corrente filosófica encontramos uma crítica ferrenha à racionalidade e à linguagem. Para os taoistas o verdadeiro caminho, o Tao, seria inatingível por meio da lógica e da argumentação.

Para chegarmos ao Tao deveríamos parar e escutar a própria natureza. Ao fazer isso encontraríamos o fluxo natural das coisas e poderíamos agir sem fazer esforço. A ação espontânea, que não passa pelo intelecto, estaria totalmente em conformidade com o Tao e seria o exemplo máximo de maestria.

Budismo

O budismo é tanto uma religião quanto uma corrente filosófica. Como a base da prática budista é a meditação, qualquer um pode usufruir de seus ensinamentos, basta sentar-se e concentrar.

Toda a ideia de visão religiosa e metafísica do mundo budista se baseia na história de um príncipe chamado Siddhartha Gautama, da Índia. Ele teria vivido no séc. VI a.C. Seu nascimento nobre o permitiu viver até os 29 anos sem conhecer a miséria e sofrimento.

Ao descobrir as condições que os plebeus viviam ele partiu para uma vida simples e isolada. Depois de anos de reflexão ele atingiu a iluminação e se tornou um Buda aos 35 anos. Buda pode ser entendido como um título ou estado de consciência daquele que despertou da ignorância e vê através das ilusões.

Essa história repercutiu em toda a Índia e gerou uma onda de monges viajantes, que buscavam levar as orientações de Buda para todos os cantos do mundo. Alguns desses monges chegaram na China e criaram templos para permitir o aprendizado das Quatro Nobres Verdades e do Nobre Caminho Óctuplo.

Um desses locais é o Templo Shaolin, local de extrema importância para o Kung Fu. Apesar de diversos mitos acerca da importância do templo e seus monges para as artes marciais, os fatos são inegáveis, tornando o budismo uma forte influência no Kung Fu.

Quer entender melhor como essas filosofias do Kung Fu e do Tai Chi Chuan se aplicam no método das artes marciais chinesas? Se inscreva na nossa Newsletter que enviaremos informações sobre a cultura chinesa e seus pensadores mais influentes!

Beba direto da fonte!

Explore a fundo as várias influências teorícas que compõe a filosofia do Kung Fu!

Os Analectos - Confúcio

Os Analectos são um conjunto de diálogos entre Confúcio e seus discípulos. Nele você encontra os principais debates confucionistas.

Tao Te Ching - Lao-tse

O Tao Te Ching é mais um livro basilar da filosofia taoista. Nele, você encontra as reflexões de Laozi (ou Lao-tse).

O livro de Chuang-tse

The Book of Chuang Tzu, Elizabeth Breuilly (Autor), Chang Wai Ming (Autor), Martin Palmer (Tradutor). Nesse livro você encontra todos os capítulos do Zhuangzi, o "internos", "externos" e "mistos"!

Capa do livro A tradição do budismo de Peter Harvey

A Tradição do Budismo: História, Filosofia, Literatura, Ensinamentos e Práticas

Um livro contendo os frutos dos estudos de Peter Harvey, professor emérito de Estudos Budistas na Universidade de Sunderland (Inglaterra).

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