Faixa preta de Kung Fu – O que ela significa na cultura chinesa?

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Entenda o que faz de alguém faixa preta de Kung Fu! Explore conceitos filosóficos que fundamentam toda a ideia de habilidade e maestria no pensamento chinês!

O que é ser um faixa preta no Kung Fu

Cada academia de Kung Fu tem uma maneira de organizar seus conteúdos. Algumas delas utilizam faixas e outras não. Sendo assim, o conteúdo de matérias varia muito de um faixa preta para outro. Tudo vai depender do estilo de Kung Fu do praticante e da abordagem da escola em que ele foi treinado.

Portanto, não é possível dizer claramente quais habilidades e capacidades um faixa preta possui. Cada família marcial vai tratar o Kung Fu sob uma ótica única, portanto os seus graduados refletirão essa ideia.

As influências culturais nas expectativas do que é ser um faixa preta

Dito isso, vamos tentar explicar o significado da faixa preta de Kung Fu por meio da cultura e filosofia chinesa. As artes marciais não são somente técnicas, elas são manifestações culturais que emanam da voz de um povo. Assim, as tradições chinesas estão emaranhadas no Kung Fu.

É certo que há um imaginário popular sobre alguém que chegou na faixa preta de Kung Fu, a saber, uma pessoa serena que consegue ser invencível no combate. Existe também um ideal regulador de como um artista marcial veterano deve se portar diante dos desafios da vida. Ambas as visões representam expectativas comuns dos mestres das artes marciais chinesas em relação a seus discípulos.

Acompanhe uma breve análise dos fundamentos filosóficos que ajudaram a construir esse imaginário popular e ideal regulador. Dessa maneira, conseguiremos entender melhor qual o sentido que a faixa preta tem para os mestres e praticantes de Kung Fu.

Confúcio e o ideal de junzi

No confucionismo temos uma aposta na capacidade do ser humano de aprender e se adaptar. Para Confúcio se uma pessoa é instruída adequadamente ela agirá bem. Isso tanto no âmbito técnico, aprendendo uma arte, quanto no aspecto ético, agindo e pensando nas consequências de suas ações na vida dos outros.

Aprendizado

No aprendizado de artes marciais há uma crença de que com o tempo e o treino qualquer habilidade pode ser aprendida. Esse é o significado da expressão chinesa gong fu. Tal termo ganha ainda mais importância quando o associamos ao pensamento confucionista.

A habilidade marcial só pode ser obtida com o treino árduo. Os básicos, formas e aplicações são estágios no treinamento que podem fazer com que qualquer um aprenda uma habilidade. Sendo assim, o praticante faixa preta sabe que é possível aprender qualquer técnica, desde que o método seja seguido e aplicado pelo tempo necessário.

O Li, o espírito ritual

Outro aspecto importante da vida do artista marcial é o respeito aos ritos. Os rituais nesse contexto são tanto os rituais religiosos (muito importantes na cultura da China antiga) e os rituais sociais. Assim, o faixa preta deve sempre se comportar de maneira a não desconsiderar a importância desses rituais.

Nas artes marciais chinesas, pequenos gestos de respeito, como a reverência ao entrar no local de treino, o respeito aos mestres e professores, a vestimenta adequada para fazer a aula, são todos ritualísticos. Essa atitude reverente também aparece nas relações sociais, pois esses ritos não podem ser entendidos somente como simples normas de comportamento.  

O fundamento do Li é você externar por meio dos seus atos o respeito e reverência que se tem por alguém ou pela situação. Assim, ao cumprimentar uma pessoa (seja lhe ofertando a mão ou inclinando a cabeça) é preciso ter a intenção sincera na mente de respeito pelo momento, como se aquilo fosse um ritual muito importante (e de fato o é).

O “senso de humanidade”

Aprender só as técnicas e regras sociais não é o bastante para o faixa preta de Kung Fu. É necessário aprender a usar suas habilidades marciais em prol dos mais fracos, em prol do bem comum. O Ren, conceito confucionista para o senso de humanidade é um apreço pela vida dos outros e consciência da importância dos indivíduos para a sociedade.

Ao entender que a vida humana é pautada pelo coletivo, o faixa preta deve sempre estar ciente das consequências de seus atos no âmbito social. Ele não deve agir pura e simplesmente pelo seu interesse próprio, ele deve levar em conta que, muitas vezes, sacrifícios pessoais devem ser feitos em prol do coletivo.

Essa mentalidade leva ao conceito de junzi, a pessoa elevada. Esse é aquela pessoa que tem habilidades marciais e as usa para o bem de toda comunidade. Um faixa preta de Kung Fu, seria um junzi, uma pessoa que sabe aprender, sabe como se portar na sociedade e que pensa no bem comum.

Taoismo: o sábio que permanece imóvel

No taoismo encontramos uma filosofia que questiona o discurso racional e que entende o Tao (o caminho) como o fluxo da natureza. Assim, para o taoista, o silêncio é mais importante que as palavras e a não-ação pode ser mais poderosa que o agir.

Wuwei, a não-ação

Um dos conceitos mais importantes do taoismo nas artes marciais chinesas é o conceito do wuwei, que também pode ser entendido como ação sem esforço. Os textos taoistas comentam que o sábio é aquele que segue o fluxo do rio, ao invés de remar contra a correnteza.

Seguindo o fluxo da natureza é possível encontrar o caminho do menor esforço. Isso é feito não por razões preguiçosas que buscam fugir do trabalho, mas sim por motivos lógicos, para ter uma ação eficiente.

No combate físico isso é de extrema importância, pois o lutador não pode se cansar no primeiro round. É preciso manejar o uso de sua energia, a fim de se manter forte até o último minuto de um combate.

No Kung Fu, esse ideal do wuwei é aplicado em todas as técnicas. Pois uma técnica marcial é criada para economizar energia e maximizar os ganhos. Isso é feito no combate marcial, mas também é utilizado na formação da mentalidade do faixa preta, que deve sempre agir seguindo o fluxo, sem forçar nada além do que é necessário para se chegar a um determinado resultado.

Shen, o silêncio da maestria

Outro princípio que todo faixa preta de Kung Fu deve desenvolver ao longo de seus treinos é o shen. Esse conceito tem origem nas ideias de divino e espiritual. Nos textos taoistas encontramos esse conceito fundamentando as ações de pessoas muito habilidosas em uma arte.

Aquele que tem maestria age espontaneamente, sem precisar pensar para agir. Se há pensamento, há dúvida e a ação pode sair hesitante. Para praticar artes marciais (tanto a arte quanto a luta) é preciso esvaziar a mente de pensamentos hesitantes e sentir o shen, como se fosse um sopro divino. Com isso será possível agir de forma certeira e veloz.

O faixa preta de Kung Fu tem que treinar até que sua habilidade seja executada sem o pensamento interferir. Ele é tão habilidoso que os movimentos fluem sem hesitação.

A influência da cultura nas artes marciais chinesas

Essas são algumas das influencias culturais e filosóficas que os mestres de Kung Fu absorveram e transmitiram durante seus programas de treinamento. É certo que cada mestre e família marcial têm determinadas influencias e que elas afetaram a vida dos praticantes desses estilos de Kung Fu de maneiras diferentes.

Contudo, o imaginário popular, e também os próprios teóricos das artes marciais, se basearam nessas correntes do pensamento chinês para moldar suas expectativas para com os alunos faixas pretas e discípulos avançados.  Portanto, existe um chão comum entre o que se espera de um artista marcial exemplar. Esse lugar é a filosofia chinesa.

E você? É faixa preta de Kung Fu ou ainda está buscando por essa conquista? Conte-nos mais sobre sua jornada nos comentários!

Beba direto da fonte!

Explore a fundo as várias influências teorícas que compõe a filosofia do Kung Fu!

Os Analectos - Confúcio

Os Analectos são um conjunto de diálogos entre Confúcio e seus discípulos. Nele você encontra os principais debates confucionistas.

Tao Te Ching - Lao-tse

O Tao Te Ching é mais um livro basilar da filosofia taoista. Nele, você encontra as reflexões de Laozi (ou Lao-tse).

O livro de Chuang-tse

The Book of Chuang Tzu, Elizabeth Breuilly (Autor), Chang Wai Ming (Autor), Martin Palmer (Tradutor). Nesse livro você encontra todos os capítulos do Zhuangzi, o "internos", "externos" e "mistos"!

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