Para quê servem os certificados de artes marciais?

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Nesse texto você vai descobrir qual é a utilidade dos certificados de artes marciais. Títulos e comprovações de procedência sempre foram lugares comuns nesse meio, em especial no Kung Fu.

Entenda mais!

O que é uma certificação

Um certificado ou diploma é um documento que comprova que alguém possui determinadas habilidades. Esse documento pode ser validado pelo poder de uma autoridade em uma determinada área ou do próprio poder estatal.

Ou seja, um certificado, diploma ou título é uma garantia de que uma pessoa passou por alguns pré-requisitos. A validade desse documento é como um “atestado de habilidade” na medida em que confiamos na pessoa ou instituição que o emitiu.

Qual a necessidade de ter um título

Uma certificação tem o propósito de deixar claro que alguém tem determinado saber ou habilidade. Ele pode economizar tempo quando queremos saber se podemos ou não confiar em um profissional. Por isso, quando procuramos um profissional de qualidade tendemos a buscar no seu histórico esses documentos comprobatórios.

Na Era Contemporânea temos uma enorme necessidade de garantir que os profissionais que buscamos tenham diplomas pelo simples fato de que certas atividades são regulamentadas pelo governo ou órgãos reconhecidos como autoridades em um assunto. Sendo assim, para algumas áreas (como a medicina, engenharia ou direito) a atividade profissional sem um certificado é completamente ilegal.

O certificado de artes marciais

Nas artes marciais a certificação pode vir de várias formas. Ela pode ser a graduação do aluno, como a faixa preta. Também pode ser o título do praticante, como mestre ou grão-mestre. Elas podem estar ou não acompanhadas de um papel, geralmente assinado pelo líder da organização que a emite.

Há também certificados específicos para cursos e participação de eventos. Tais documentos são muito comuns. Especialmente em contextos competitivos onde o competidor ganha medalhas, que comprovam sua colocação, títulos (como de campeão ou de melhor atleta, por exemplo) ou simplesmente uma comprovação que o artista marcial participou ou ajudou no evento.

Isso é algo tradicional?

Os certificados de artes marciais não são algo novo. Especialmente na civilização chinesa, já havia torneios de combate que agraciavam os vencedores com títulos. E mesmo que não houvesse um papel com assinatura, como vemos nos tempos atuais, havia o reconhecimento por alguém ter realizado um determinado feito.

Outra maneira muito clara de garantir a qualidade de um artista marcial era a verificação da sua linhagem. Na cultura chinesa a procedência de uma pessoa ou conhecimento era extremamente importante. Isso está ligado tanto à política (com a hereditariedade do poder) quanto com a tradição familiar da tradição marcial da China. Isso é tão forte na cultura da China, que era comum que uma pessoa “inventasse” uma ligação do seu saber ou arte com algum antepassado virtuoso. Isso traria mais peso à sua autoridade.

Esse fenômeno, de se importar com a procedência, apesar de no Kung Fu estar ligada ao culto ancestral da civilização chinesa, é comum em várias culturas. No interior do Brasil a frase “você é filho de quem?” tem um significado maior do que simplesmente saber o parentesco de alguém. A ideia é que se uma pessoa vem de uma “boa família” ela é mais confiável do que uma pessoa com de “origem suspeita”.

Nas artes marciais chinesas isso era extremamente importante. Principalmente porque os estilos de Kung Fu eram passados de pai para filho. Assim, em muitas famílias o ensino das técnicas muitas vezes era restringido a membros do clã.

Portanto, a reputação de uma pessoa estava ligada diretamente à reputação de seu mestre ou professor. Uma linhagem que estivesse ligada a um ancestral nobre era muito mais respeitada e validada aos olhares da população em geral.

A dificuldade de regulamentar uma arte

Contudo, mesmo que certificações sejam recorrentes na história e tenham se tornado comum nos meios marciais no séc. XXI, elas não possuem uma regulamentação tão clara. Um professor de artes marciais, por exemplo, não está necessariamente no mesmo patamar que um professor de educação física. Tanto é que essa discussão é bem antiga nos tribunais.

Os órgãos reguladores argumentam que é preciso que o professor de artes marciais seja filiado a eles, mas os artistas marciais defendem que a graduação em educação física em nada prepara o profissional para ensinar uma arte marcial específica. Além do mais, abrir o precedente de regulamentar uma arte é algo perigoso, talvez impossível. Pois, se formos pensar bem, dança, teatro e outras expressões artísticas que envolvem o corpo, teriam que entrar nesse mesmo tipo de regulamentação. A comunidade de artistas em geral acredita que isso seria um exagero na legislação e apontam a dificuldade do poder estatal de fiscalizar algo tão corriqueiro e diverso na vida das pessoas como uma arte corporal.

Sendo assim, nas artes, tais certificações são diferentes dos diplomas regulamentados pela lei (os diplomas de ensino superior, por exemplo). Elas valem para atestar um saber ou habilidade, mas não são pré-requisitos para um profissional ensinar. E é importante lembrar que até mesmo o diploma pode não ser o suficiente para a atuação de um profissional. Talvez o maior exemplo disso seja o exame da Ordem dos Advogados (OAB), que além do diploma exigem uma prova de conhecimento.

Uma certificação tem valor por si mesmo?

Contudo, há de se perguntar se uma certificação somente é o bastante para garantir a qualidade de um serviço ou saber. Já nessa disputa jurídica entre os professores de artes marciais e os órgãos reguladores encontramos um enorme problema: a grade curricular.

Cada arte marcial tem um currículo próprio. Da mesma maneira, cada curso de graduação tem um currículo diferente. Por mais que alguns conhecimentos coincidam não é possível equalizar um ao outro.

Encontramos nos cursos de fisioterapia e educação física um ótimo exemplo. Ambos exigem dos seus graduandos conhecimentos sobre a anatomia humana, biomecânica, etc. No entanto, dificilmente alguém argumentaria que um fisioterapeuta poderia atuar como professor de educação física e vice-versa.

Por mais que possamos concordar que uma pessoa que conhece anatomia humana possa tanto reabilitar um paciente lesionado (uma das funções da fisioterapia) quanto treinar algum atleta para ter mais condicionamento físico (uma das funções do educador físico), há de se concordar que o diploma de Ed. Física e de Fisioterapia não se equivalem. No máximo eles se entrelaçam.

A complexidade dos certificados de artes marciais (em especial no Kung Fu)

E quando falamos de certificados de artes marciais isso se torna ainda mais complexo. Isso ocorre justamente pela falta de um padrão em tais práticas. Essa falta de padrão não é algo ruim e acontece porque cada vilarejo, aldeia ou região criou na antiguidade sua própria técnica de autodefesa. Nas artes marciais chinesas essa despadronização é exemplificada na variedade de estilos de Kung Fu, por isso o usaremos como exemplo principal.

São mais de 300 estilos oficialmente reconhecidos e muitos deles tem dezenas de ramos distintos. Cada um tem características próprias e, muitas vezes, até dentro de uma família marcial há nuances que vão se alterando de geração em geração. Por isso, um certificado de uma escola pode não coincidir com a de outra, mesmo que os estilos sejam os mesmos.

O que se exige de um faixa preta em uma determinada academia de Kung Fu pode ser extremamente diferente de outra. Na Bravo Kung Fu nosso estilo principal é o Louva-a-deus, mais especificamente o ramo Sete Estrelas. Contudo, outra escola com o mesmo estilo pode adotar uma ordem diferente de outra ou ensinas técnicas completamente distintas.

Por esse motivo uma certificação de faixa preta da Bravo Kung Fu tem pré-requisitos diferentes de outras escolas. Tudo por conta do método, didática e escolhas do professor. Em uma escola X o foco pode ser no treino de armas, em uma academia Y o foco pode ser nas técnicas de Chi Kung, enquanto no centro de treinamento Z a preocupação maior é com técnicas de mãos vazias.

Qualquer certificado depende do contexto

Portanto, uma certificação não possui valor por si mesma. Ela sempre vai depender do conteúdo cobrado na grade curricular que compõe os pré-requisitos. Assim, uma certificação de faixa preta da Bravo Kung Fu não permite que o aluno seja automaticamente aceito como tal em outra escola. Nós certificamos nossos alunos por meio dos exames de faixa que tem conteúdos específicos para cada faixa. Para que um professor de outra escola ou instituição aceite os certificados de artes marciais da Bravo, ele primeiro terá que avaliar os conteúdos de cada graduação e fazer uma conta do que é ou não equivalente entre um currículo ou outro.

Pode parecer estranho dizer que uma certificação de uma dada instituição não tem validade automática em outra, mas essa é a regra. Por exemplo, um faixa preta no Karaté não é igual a um faixa preta em Kung Fu. Da mesma maneira um faixa preta no estilo Louva-a-deus não pode se considerar um faixa preta no estilo Hung Gar.

E mais! Se sairmos do contexto marcial e formos para os cursos de graduação e diplomas universitários, veremos que encontramos a mesma barreira. Ter um diploma no Brasil não significa que ele será aceito em outro país. Normalmente essa aceitação automática da graduação só ocorre entre governos que já possuem algum tipo de acordo nesse sentido.

Se um médico, advogado ou engenheiro quer atuar em outra nação, normalmente ele terá que fazer algum tipo de reciclagem ou prova para atestar os saberes que possui e se ele está de acordo com a regulamentação local.

Sendo assim, não faz sentido esperar que um diploma ou certificado valha automaticamente. É preciso que ele tenha legitimidade, seja pela lei do estado, seja pela comprovação de habilidades e conteúdos ou até mesmo pela reputação e notoriedade de uma instituição em seu meio de atuação.

E você? Possui certificados de artes marciais? Conte-nos mais nos comentários e divida conosco suas experiências para conquistá-los!

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