Formas de Kung Fu – Para quê elas servem no séc. XXI

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Muitos praticantes de artes marciais questionam o propósito de treinar as formas nos dias atuais. Esse questionamento também se relaciona com outra problematização atual: a eficácia das artes marciais tradicionais.

Nesse texto você vai entender as várias maneiras do Kung Fu entender e usar as formas no século XXI!

O que são as formas/taolu/kati

Antes de qualquer coisa é necessário definir o que são as formas, que também podem ser chamadas de taolu ou kati. Essas técnicas são sequências de movimentos, são coreografias. Porém, seu sentido não é somente estético (ou seja, associados à beleza dos movimentos), mas também é marcial (movimentos que podem ser usados em uma luta).

Tais sequências surgiram como um mecanismo didático que permitia ensinar os novatos com facilidade e também guardar as técnicas de um sistema. Depois de aprendidas, elas devem ser estudadas a fundo. Pois seu real significado técnico e marcial não está imediatamente acessível para as pessoas não treinadas.

Tecnologia X tradição

As armas de fogo não são nenhuma novidade na história humana. A pólvora é mencionada a primeira vez no séc. II, no livro O parentesco dos Três (Cantong Qi), de Wei Boyang. Ao longo de dois milênios a sua utilização foi se diversificando, sendo utilizada em fogos de artifício e armas.

No séc. X já existem relatos do uso de armas de fogo em várias batalhas. De flechas de fogo, lança chamas e canhões, a pólvora ia ficando cada vez mais comum. Porém, seu uso no campo de batalha ainda era limitado pela técnica rudimentar na criação de armas de fogo e pelas dificuldades de se transportar seguramente grandes quantidades de munições.

Essas dificuldades permaneceram até o séc. XX. Com o desenvolvimento industrial aplicado na arte da guerra, a proeminência das armas de fogo nos campos de batalha tornaram as artes marciais tradicionais inúteis no contexto militar. A utilização de armas brancas ainda persistiu em alguns campos de batalha, pelo menos até meados do séc. XX. No entanto, isso só era verdade para tropas em situação muito precária.

Do campo de batalha para as brigas de rua

Assim, na segunda metade do séc. XX as artes marciais são usadas em combate principalmente por gangues de rua e lutadores profissionais. Com a crescente urbanização e institucionalização da justiça, o estilo de vida sangrento, que era comum nos campos, deixa de fazer parte do cotidiano do cidadão comum.

Nesse contexto, os mestres e professores de artes marciais já estão se questionando sobre o papel das técnicas e tradições na sociedade industrial. Surgem diversas vertentes que tentam responder aos questionamentos de eficácia e o papel da luta no mundo pós-industrial.

A resignificação das artes marciais

Com a perda de espaço nas atividades militares os mestres e professores de Kung Fu iniciaram um movimento de reestruturação de seus currículos e métodos de ensino. Eles tiveram que buscar novas maneiras de justificar a necessidade de se treinar as artes marciais e também tiveram que se adaptar à globalização.

Esses movimentos foram amplamente apoiados pelo governo chinês, tanto no período republicano (1912-1949) quanto na ascensão do partido comunista (a partir de 1949). Vários grupos se formaram para organizar e desenvolver as artes marciais chinesas, como a Associação Atlética Jingwu (fundada em 1910) e a Academia Central de Artes Nacionais (fundada em 1928).

Dentro desse movimento surgem pessoas que buscaram se aprofundar nos estudos filosóficos e históricos do Kung Fu. Tang Hao (1887-1959) é um desses estudiosos que jogou luz no ambiente marcial, tradicionalmente tomado pelo secretismo e xenofobia. A ideia era tornar a prática mais acessível e incentivar novos estudantes a iniciarem os treinos.

O estudo da filosofia e cultura chinesa (especialmente a confucionista e taoista) também marcou esse movimento de resignificação. Como lutar e se defender não eram mais prioridades do cidadão comum, a busca de se tornar uma pessoa melhor, mais disciplinada e no controle de suas emoções, tomou conta do discurso nas artes marciais de todo o mundo.

A arte pela arte

Há vários mestres e professores que criticaram duramente a eficácia de sua técnica no contexto atual da guerra e perceberam que, contra armas de fogo e veículos blindados, de pouco serviria uma lança ou espada. Portanto, eles se concentraram na estética e harmonia dos movimentos e também na exploração dos potenciais do corpo humano.

Esse movimento foi mais forte na China, especialmente no governo de Mao Tsé-Tung, que criou o Wushu Contemporâneo. Nessa arte, a marcialidade dos movimentos é abandonada. Formas tradicionais de determinados estilos de Kung Fu são padronizadas e organizadas em sequências intercaladas com acrobacias. Essas manobras são avaliadas por critérios técnicos, criando uma competição muito parecida com a ginástica olímpica.

A arte pela luta

Em contra partida, há mestres e professores que entendem que o combate ainda tem muita importância nas artes marciais chinesas. Eles compreendem as limitações delas, especialmente no contexto de guerras, mas acreditam que ainda há espaço para o Kung Fu (ou qualquer arte marcial, na verdade) nas competições e em situações de defesa pessoal.

Desse processo surgiram categorias de combate esportivo como o Sanda e Sanchou. Também encontramos professores que usam abordagens mais modernas de treinamento e que aplicam suas técnicas no MMA, por exemplo. Essas escolas podem optar por treinar as formas usando suas aplicações. No entanto há aqueles que as deixam de lado no seu programa de treinamento.

A arte pela cultura

A vertente que talvez seja a mais comum de ser encontrada é aquela que busca valorizar a cultura marcial e aplicá-la no modo de vida contemporâneo. Essas academias de Kung Fu se concentram em preservar a cultura milenar que lhes foi passada de geração em geração.

Isso é feito de maneiras variadas, pois cada professor terá um tipo de vivência. Pode ser que as aulas sejam focadas nas técnicas do estilo em que a escola é especializada. Nesse tipo de aula, o treino de formas é muito valorizado, pois cada aluno se torna um repositório das técnicas do estilo. Assim, os alunos ajudam a preservar as técnicas seculares e ainda absorvem seu sentido técnico e marcial.

Há também academias de Kung Fu que se concentram nas técnicas de luta encontradas nas formas, mas sem necessariamente ensinar as formas para alunos principiantes. Aqui a cadencia de aprendizado é invertida, pois no tradicional se aprende a forma e depois se aplica os conceitos. Nesse exemplo, o aluno aprende técnicas chave dos estilos, as usa na luta e depois explora a forma, que seria um aprendizado mais cultural do que técnico.

Outras escolas podem simplesmente treinar as formas pelo seu valor cultural e os benefícios físicos que elas trazem. Nesses locais é comum ver ritos e costumes chineses aplicados nas aulas. Todo o currículo de matérias é organizado para oferecer ao aluno mais disciplina e ao mesmo tempo harmonizar o corpo e mente. Assim, a busca pela saúde se torna mais central do que a luta propriamente dita.

Na sua escola de Kung Fu são ensinadas formas? Ou você ainda não praticou alguma arte marcial chinesa? Siga-nos no Facebook e aprenda mais sobre o Kung Fu e Tai Chi Chuan!

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Explore a fundo as várias influências teorícas que compõe a filosofia do Kung Fu!

Os Analectos - Confúcio

Os Analectos são um conjunto de diálogos entre Confúcio e seus discípulos. Nele você encontra os principais debates confucionistas.

Tao Te Ching - Lao-tse

O Tao Te Ching é mais um livro basilar da filosofia taoista. Nele, você encontra as reflexões de Laozi (ou Lao-tse).

O livro de Chuang-tse

The Book of Chuang Tzu, Elizabeth Breuilly (Autor), Chang Wai Ming (Autor), Martin Palmer (Tradutor). Nesse livro você encontra todos os capítulos do Zhuangzi, o "internos", "externos" e "mistos"!

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A Tradição do Budismo: História, Filosofia, Literatura, Ensinamentos e Práticas

Um livro contendo os frutos dos estudos de Peter Harvey, professor emérito de Estudos Budistas na Universidade de Sunderland (Inglaterra).

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