Aprenda tudo sobre as armas curtas do Kung Fu! Descubra qual o tipo de facão mais usado no séc. XXI pelos praticantes de Kung Fu.

As armas do Kung Fu

Na história da China encontramos diversos equipamentos para potencializar a efetividade no combate. Tanto soldados quanto civis aprendiam a manusear armas brancas e a utilizar proteções corporais. Com o desenvolvimento das técnicas de metalurgia esses equipamentos só se tornaram mais importantes na arte da guerra.

As armas do Kung Fu podem ser dividias em vários grupos.

Temos:

• Armas longas (lanças, bastões, etc.);
• Armas articuladas (nuchako/ lien tien kuan, corrente, etc.);
• Armas secretas (leque, adagas emei, etc.) e;
• As armas curtas (facões, espadas, calvas, etc.).

As armas curtas

Uma das categorias mais diversas, as armas curtas, foram essenciais para os cidadãos chineses até o início do séc. XX. As espadas e facões são os tipos mais famosos, mas não se pode esquecer as clavas, maças e machados, que também eram muito frequentes nos campos de batalha.

As armas curtas são as companheiras fieis de todo oficial do exército ou viajante, independente do estilo de Kung Fu praticado. Como elas são fáceis de carregar qualquer um que quisesse se defender da violência na era imperial recorria a elas primeiro.

Nesse texto abordaremos um tipo específico de arma curta: o Facão de Kung Fu.

O facão

O facão mais comum de ser usado pelos praticantes de Kung Fu no séc. XXI é o “facão cauda de boi”, ou Niúwěidāo (牛尾刀).  Contudo, ele é uma variação bastante recente de um modelo de arma que assumiu diversas formas ao longo dos milênios.

A característica principal do facão é sua facilidade de manuseio em relação a outras armas. Sua técnica é relativamente simples, podendo ser aplicada em um grande número de recrutas, tornando-os combatentes letais.

Nos campos de batalha, sua simplicidade foi notada cedo. Os chineses se viam subjugados diversas vezes pelos facões dos povos do norte, como os xiangnu, que usavam cavalaria ligeira e sabres de uma mão e um gume. Assim, a partir da dinastia Han (206 a.C. até 24 d.C.) temos a substituição da espada reta de dois gumes (jian  劍) pelo facão (dao, 刀).

Dao, 刀

Contudo, antes de explorar os diversos tipos de facão, temos que explicar o que significa a palavra dao. Em mandarim, dao é qualquer arma ou ferramenta que tenha somente uma lâmina. Assim, de uma faca de cozinha a uma espada reta de um gume, podem ser entendidos como dao, ou seja, facas em geral.

Em português usamos o aumentativo para expressar a diferença entre uma faca de cozinha e uma arma branca. Contudo, na nomenclatura mais utilizada pelos artistas marciais o aumentativo de dao expressa um tipo diferente de arma.

O dadao (大刀) significa literalmente “grande faca”. Ele é um tipo específico de arma branca, onde o comprimento da sua lâmina é tão grande que ela precisa ser manejada com duas mãos. O que veremos a seguir é que há nomes específicos para cada tipo de dao.

Os tipos de dao

Ao longo da história das artes marciais chinesas apareceram diversos tipos de armas curtas. Contudo, há poucos registros dessa variedade. Havia nomes distintos para cada tipo de lâmina e empunhadura que se perderam ao longo do tempo.

Atualmente encontramos textos como o Wu Bei Zhi (武備志) ou Tratado da Preparação Militar por Mao Yuanyi.  Nesse livro da dinastia Ming (1368-1644) o autor conta que as duas classificações mais comuns no seu tempo era a de “sabre longo”, changdao (長刀), e o “sabre usado na cintura”, yāodāo (腰刀). Yuanyi ainda afirma que havia distinções entre vários tipos de facão, porém que já não eram usados mais.

Entretanto, na prática, um facão era qualquer lâmina que tivesse um fio. Os praticantes de Kung Fu do século XXI estão acostumados a associar essa arma com a curvatura da lâmina, em contraste com a espada reta, a jian (劍). Os oficiais e soldados tinham regras estritas sobre como a arma curta deveria ser ajustada e decorada enquanto estava na bainha, mas o formato da lâmina era uma escolha individual.

Portanto, nesse texto usaremos como referência as classificações compiladas por Peter Dekker.

1 – Zhíbèidāo (直背刀) ou “sabre de lâmina reta”

O fio da lâmina e seu dorso são completamente retos, ficando paralelos até formarem uma ponta. Sendo bem preciosista no termos, essa arma curta não é um sabre. Contudo, a palavra dao, 刀, se aplica a qualquer utensilio com um fio.

As armas curtas completamente retas caíram em desuso com as várias invasões mongóis, que forçaram os chineses imperiais a se adaptarem. Eles começaram a adotar o facão com curvatura. Por isso, na época da dinastia Qing (1644-1912) esse desenho de lãmina já não é mais tão comum.

2. Yànmáodāo (雁毛刀) / yànlíngdāo (雁翎刀) ou “sabre pena de ganso”

Esse sabre já apresenta uma leve curvatura no final de sua lâmina. Dekker afirma que, yànmáodāo, é um jargão dos colecionadores e que, yànlíngdāo, é o termo que aparece na literatura.

Esses sabres são uma transição entre o zhíbèidāo e sabres com a curvatura em toda sua lâmina. Possivelmente esse tipo de facão surgiu na dinastia Song (960-1279) e foi usado até meados da dinastia Qing.

3. Liǔyèdāo (柳葉刀) ou “Sabre Folha de Salgueiro”

Nesse tipo de sabre temos uma curvatura em toda a extensão da lâmina. Em alguns modelos a curvatura pode ser mais sutil, contudo havia modelos com curvaturas bem mais evidentes. Nas dinastias Ming e Qing esse era o tipo de sabre mais popular.

4. Piāndāo (㓲刀) ou “Sabre Fatiador”

Esse sabre possui uma curvatura bem acentuada e é um dos mais raros no arsenal da historiografia chinesa. Ele era portado por tropas especializadas das dinastias Ming e Qing, que usavam piāndāo em conjunto com escudos.

O que diferencia o piāndāo do liuyedāo é como a força do golpe da lâmina é aplicado. Na lâmina mais retilínea do liuyedāo o corte depende mais do impacto, da força aplicada pelo golpe. Já na lâmina mais curva do piāndāo vemos que a curvatura faz a lâmina deslizar sobre o alvo com facilidade, tornando o ataque mais cortante do que percursivo.

5. Niúwěidāo (牛尾刀) ou “Sabre Cauda de Boi”

Esse tipo de sabre possui a lâmina praticamente reta na sua extensão, porém na ponta a curvatura se acentua. A lâmina tendia a ser mais fina, com um desenho ideal para cortar adversários sem proteção de armaduras.

Seu uso não era militar, sendo adotado por civis, especialmente rebeldes e artistas marciais. Ele ficou muito popular no séc. XIX, quando a popularização das armas de fogo tornaram o uso de armaduras obsoletos.

As incertezas das definições e classificações

Quando falamos de história estamos falando semente de um recorte do passado. Muitas das armas que encontramos hoje em museus e coleções particulares datam dos séc. XVII até o XIX. Ou seja, a maioria das armas que temos acesso são relativamente recente (especialmente quando comparamos com a história milenar da China).

Além disso, registros de oficiais militares e de artistas marciais são raros. Muitos dos mestres de Kung Fu da antiguidade preferiam guardar suas técnicas em segredo absoluto. Assim, poucos são os dados que temos sobre o desenvolvimento das técnicas e das nomenclaturas.

Por isso todas essas classificações são relativas ao contexto das obras em que elas foram resgatadas. Como toda saber histórico, devemos ter em mente as peculiaridades dos registros e fontes.

E você? Já treinou com alguma arma curta?

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