Confúcio – O segundo pilar do confucionismo; o senso de humanidade

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Para Confúcio, o ser humano só se faz enquanto ele é um agente social. A própria natureza de nossas relações sociais no obriga a confiar uns nos outros. Nesse texto você vai aprender sobre a importância das relações interpessoais no confucionismo.

Ren, a qualidade humana

Nos textos antigos ren é a magnanimidade de uma pessoa, ou seja, o quão generosa ela é. No entanto, Confúcio se apropria do termo com um significado diferente. Ele considera o ren como um “senso de humanidade”, é o ser humano que só se faz em relação aos outros, no “cuidado que os [humanos] têm uns pelos outros pelo fato de viverem juntos”.

Contudo, o filósofo não se limita a uma só definição. Nos Analectos, Confúcio sempre define o ren de acordo com o interlocutor. Porém, no cerne dessa ideia, existe a noção de que sem o “senso de humanidade” não há moralidade. Isso torna o ren um ideal regulador que todos deveriam almejar para terem uma boa convivência social baseada em princípios morais que beneficiam toda a comunidade.

Mansidão; o amor que sentimos uns pelos outros

Para praticar nosso senso de humanidade precisamos da Mansidão (shu). Essa qualidade é o amor que sentimos uns pelos outros, é uma gentileza dirigida a todas as pessoas.

“O Caminho do Mestre resume-se nisso: lealdade para consigo mesmo e mansidão para com os outros” (IV, 15).

A prática do ren começa com a própria pessoa, no cultivo de bons hábitos e controle dos nossos impulsos mais instintivos. Ele se aplica também quando vamos agir de acordos com certos interesses. Assim, se temos que tomar decisões que impliquem em consequências para várias pessoas, devemos ser justos e não agir parcialmente, pesando somente em nossos interesses.

Agir de forma correta é, portanto, ser recíproco com todos. Porém, a reciprocidade não significa uma relação igualitária. Confúcio defende uma sociedade onde as posições hierárquicas sejam bem definidas.  A mansidão aparece quando o líder se coloca no lugar de seus liderados antes de tomar uma decisão, enquanto que os súditos se esforçam para entender o peso da responsabilidade depositado no líder.

Piedade filial, o fundamento da autoridade

Confúcio é defensor de uma estrutura familiar bem rígida, onde cada membro deve agir conforme a sua posição na hierarquia. O indivíduo é apresentado ao mundo por meio de seus pais. Toda a noção de pertencimento à comunidade humana se dá na medida em que a pessoa é também parte de uma família*.

*É importante notar que o conceito de família muda constantemente na sociedade, porém o centro dessa ideia são as uniões criadas por pessoas que tem que conviver umas com as outras, apesar desse não ser exatamente o conceito de família na China antiga.

Essa relação entre pais e filhos é recíproca por excelência. Os filhos são cuidados pelos pais e estes, em troca, recebem amor e carinho. Quando os pais se tornam idosos, os filhos se responsabilizam por eles, invertendo-se o papel de quem é cuidado e quem cuida. Essa solidariedade entre as gerações é o que sustenta o núcleo familiar.

A partir dessa relação, Confúcio cria o conceito de piedade filial (xiao). Esse termo engloba todas as relações de autoridade na análise confucionista. Assim, a autoridade dos pais é análoga à autoridade do soberano ou governo.

A ideia é que os pais demonstram bondade aos filhos. Estes, por sua vez, demonstram piedade aos pais. Nas relações de poder políticas existe uma relação similar. O governante é benevolente com seus súditos, enquanto estes são leais à aquele.

A autoridade nas relações

No confucionismo, toda autoridade deve começar por uma cobrança de si mesmo. Por isso, cada um deveria cumprir suas obrigações antes de sequer pensar em cobrar dos outros. Lembrando que isso tem que valer tanto para os superiores na estrutura hierárquica, quanto para os inferiores.

A piedade filial vai sustentar todas as relações humanas, familiares ou sociais. Como vivemos em comunidade é preciso confiar (xin) nos outros. Essa confiança se dá no [humano] inteiro em sua palavra, a adequação entre o que ele diz e o que ele faz”.

Portanto, isso significa que enquanto cumprimos com nossas promessas estamos construindo a base para a piedade filial, que é a reciprocidade que encontramos em nossas relações. Para esse pensador, o ser humano não pode estar isolado, sua ação deve sempre contemplar os outros.

Confúcio vai identificar as cinco relações fundamentais:

  1. Pais e filhos
  2. Príncipe e súdito
  3. Irmãos mais velhos e mais novos
  4. Entre conjugues
  5. Entre amigos

Para cultivar essas relações de forma harmônica é preciso não se esquecer de cumprir as promessas e a exercer as funções que lhes são cabidas. O que esperamos dos nossos pais é bem diferente do que esperamos dos nossos amigos, assim como nossas obrigações para com eles se diferem. A piedade filial exige que sempre examinemos nossas ações nas relações, para assim manter a confiança.

Confúcio e a benevolência com a humanidade

O ren começa como um sentimento de benevolência e confiança entre familiares. Ele vai sendo desenvolvido dentro de casa. Muitas vezes, esse sentimento de compaixão para com os outros é focada somente nos membros da própria família.

Entretanto, ele pode se expandir para a comunidade, depois para o país e, enfim, culminando para humanidade como um todo. Para isso ocorrer, é preciso que a pessoa se esforce para se tornar um junzi, uma pessoa elevada. Tal pessoa sustenta suas relações por meio da piedade filial.

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